quinta-feira, 28 de julho de 2011


Ela não se encaixava. Um vazio corroí-a por dentro enquanto ela se detruía por fora, se deixando levar por qualquer distração barata tentando se esquecer um pouco de todo aquele peso, como se aquilo fosse realmente possível. Mas não importam as histórias, os casos de amor, ódio, descaso; tão fugazes e velozes que nem sequer podiam ser colocados em uma categoria; as drogas em que se afundava vez ou outra como uma desculpa pra escapar de si e acabava apenas caindo ainda mais forte em sua própria teia, fosse o que fosse, tudo sempre terminava igual. E ela sonhava com a liberdade...

Liberdade desta fome, dessa falta de freios, do redemoinho que era a vida, sabe lá se só a sua, mas que parecia intensa demais... era como se já tivesse vivido tantas delas, e mortes então, essas nem se fala. Mas ressucitava, remendava-se, e ainda que nunca completamente inteira, erguia a cabeça e enfrentava o mundo outra vez. O mesmo mundo que não a entendia, aquele aonde ela era uma pária, às vezes um monstro, noutras apenas mais uma puta qualquer.

Ela não se encaixava. Seus impulsos e contrastes a dominavam e a tornavam por vezes, insuportável, quase feito um bicho selvagem do qual a maioria não consegue ou teme se aproximar.

“ Você precisa parar de bater no mundo. “ lhe disseram certa vez, e ela respondeu que pararia, assim que ele parasse de bater nela também. Sobrevivência. Instinto latente e incontrolável. O jeito que ela aprendeu a lidar com a merda que lhe jogavam, e que numa tentativa desesperada, e tola de não se tornar uma vítima, sempre atacando antes de ser atacada, acabou tornando-se refém de si mesma.

Ela não se encaixava. Não tinha as respostas e fazia perguntas demais que a mantinham acordada noite após noite. Inquieta, inconstante, inigualável... enquanto o mundo a rejeitava e ela não encontrava seu lugar nele, ou em qualquer outro canto e a liberdade parecia apenas uma miragem, tudo que lhe restavam eram sonhos incertos e palavras perdidas tal qual a própria.

...mas quem sabe, um dia, ela acordaria e encontraria uma saída que a levasse onde nunca, em todos aqueles anos, havia conseguido chegar...

Ainda que pouca, a esperança resistia.