terça-feira, 15 de janeiro de 2013

É sábado, chove fraco mas o suficiente pra incomodar. A maioria das pessoas veste casacos grossos e tênis, ninguém quer se arriscar com o frio que teima em dominar a cidade em pleno alto verão. Estou na estação da República, esperando a transferência para a linha vermelha. Vai ser a primeira vez, nos quase seis meses que moro aqui, que faço o trajeto até a zona leste. Parece meio absurdo quando digo em voz alta... mas São Paulo, muito mais do que o Rio onde nasci e cresci, é uma cidade dividida. Nunca houve um motivo, embora houvesse curiosidade, até que hoje enfim largo o conforto do familiar. Quanto mais eu olho, mais fica claro que aqui, a pobreza não tá tão na cara da sociedade como acontece na chamada “Cidade Maravilhosa”, estampada nas favelas e desmitificada nas areias da praia, onde todo mundo fica ou finge ser brother. Ela é empurrada pra debaixo do tapete em periferias longínquas, de onde ninguém quer falar e portanto ninguém precisa saber. Mas não é tão simples assim, e não importa quão altas sejam as grades do seu condomínio, as ruas, por enquanto ainda são de livre acesso... ...e nos fins de semana, os trens se enchem dos mais diferentes sorrisos, sotaques, cabelos, alturas e corpos com um único propósito, aproveitar a cidade que também é deles. Que sem eles, não funcionaria física e financeiramente, mas ninguém, provavelmente nem eles mesmos, vão reconhecer. Não é lucro nem jogo, e a verdade é que muitos deles nem sabem. Sentada no banco do metrô, eu penso quantos Brasis, cabem em São Paulo ?

domingo, 9 de dezembro de 2012

Uma das melhores coisas de se mudar pra uma nova cidade, é o fato de você literalmente ser forçado a começar do zero. Às vezes pode ser assustador, tem horas que é frustrante e meio sozinho, quando você ainda não conheceu as pessoas certas. Certas pra você. Porque numa cidade tão grande, eclética e efervescente quanto São Paulo não há nada mais fácil do que conhecer gente. Faz 4 meses que eu cheguei aqui, assim meio no improviso, dando a cara a tapa vendo qual ia ser. E é absurdo como o tempo voa... talvez aqui mais do que em qualquer outro lugar. A cidade não dorme, todo mundo está sempre correndo... atrás de algo, alguém, de si mesmo, vai saber. O dinheiro gira, assim como as pessoas. Cheguei sem conhecer ninguém, hoje conheço várias pessoas, mas só algumas, poucas e boas, chamo com vontade e de verdade de amigos. Gente que eu escolhi, ou me escolheu... coisas do destino. Talvez seja culpa minha. Eu me deixei levar pelo ritmo frenético, fantástico e múltiplo de São Paulo. A novidade, possibilidade em cada esquina e olhar me intriga. E sigo me rendendo as maravilhas do concreto. ...de passos firmes, olhos curiosos eu sigo porque lá fora a cidade grita por mim...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Depois de tentativas frustradas e ameaças vazias, anos se passaram e ela viu que de verdade, na realidade, nada ali mudaria com ou sem ela. E se permitiu o que nunca pensou ser capaz: ser feliz. Desamarrou as preocupações que lhe seguravam pelos calcanhares, tirou o drama do peito e de onde mais ele teimasse em se alojar, deixou a bagagem velha e pesada num canto da casa com todo o cuidado e carinho que pôde, mas era hora de admitir, TANTO daquilo nem pertencia a ela. Nunca havia. E assim, dona de si como há muito não se sentia, seguiu viagem leve e tranquila de ser quem se é.
...e os dias e as noites se desenrolavam trazendo novos ares, cores, sons e caminhos... fazia seu próprio ritmo, dançava sua música e sorria pelo simples prazer de fazê-lo. Enfim, ainda que longe de tudo e de todos que costumava conhecer, estava em casa. Em paz; ela estava em si.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Não sei se foi a chuva, ou o frio, mas nesses dias cinzentos de feriado não pude deixar de pensar em quando éramos tão mais coloridos. Mais vivos, impulsivos, ingênuos e famintos por tudo, quando o tudo nunca era suficiente. Crianças, aprendizes, professores, bailarinas de seu próprio ato, intrepidamente entre a corda bamba agarrando-se nas possibilidades, algumas visíveis outras não, mas que ela crê. E crê, por que precisa. Lembra de quando fomos livres e loucos, e de toda a rebordosa que veio seguida das idéias estúpidas disfarçadas de utopia revolucionária... é fácil querer mudar o mundo, começa a ficar complexo na hora de mudar você. Abrir mão, se entregar, aceitar, ir de cabeça e não só papinho meia-boca. Se você não güenta, vaza que tá na tua hora... cai antes que fique feio pra tu. E tente se encontrar, em algo ou alguém que te faça o bem e te ajude a se encontrar inteiro. Afinal, acho que é isso que todo mundo quer, de um jeito ou de outro. Sei lá. Segue sua onda, sigo a minha... a estrada é cúmplice e volta, volta e meia a gente se esbarra de novo. Um pouco menos livres, um tanto mais loucos, mas sempre acreditando que o caminho é esse. “ Crianças, aprendizes, professores, bailarinas de seu próprio ato, intrepidamente entre a corda bamba agarrando-se nas possibilidades, algumas visíveis outras não, mas que ela crê. E crer, é só o que sabe fazer.”
...um passo após o outro, você chega lá... mas o lá é onde ?
O colorido da cidade sai da mistura dos vários tons de cinza; das luzes incansáveis dos bares e restaurantes espalhados a cada esquina; dos papéis picotados, grudados nos postes, nas calçadas, no lixo ao grafite que se impõe nas fachadas, m uros, pontes, vitrines e vidraças cada vez mais altas. Dando graça a uma cidade engessada. Não boto em questão se é bonita ou não é; há beleza em tudo e São Paulo, com certeza, tem seu charme. Mas é uma terra dura. Cidade do concreto, onde a mão do Homem prevelace soberana, orgulhosa, sobre a Natureza tímida. Mas nem só de cinza vive essa cidade. Como sua população, multi-racial/cultural/sexual, há também uma multiplicidade de nuances que se revelam praqueles que olham além dos clichês... e aí sim, cores deliciosamente pulsantes, talvez picotadas como os papéis que vemos espalhados pelas ruas... mas ainda assim cores. Enquanto desço a Augusta, os sinais dos carros brilham e as hordas de pessoas indo e vindo, tentando chegar em algum lugar me envolvem, me comovem, me movem rumo ao que muitas vezes nem bem sei. O colorido da cidade se mistura em mim.

sábado, 31 de dezembro de 2011


Cheia de gosto, vontade e inspiração abro a boca pra gritar bem alto que 2012 vem chegando por aí... a esperança, quem sabe venha com ele, assim como outras tantas coisas boas que quem é gato escaldado, velho, merece e espera mas o ceticismo não dá muito espaço pra você desejar. Tá foda, eu admito. Realmente fica difícil acreditar que a virada de um ano vai mudar qualquer coisa que seja na tua, na minha, nas nossas vidas... não vai.
Não é a virada do ano. Pra mim nunca foi sobre isso, e embora eu esteja muito feliz de ver 2011 chegar ao fim, o verdadeiro lance tá nos recomeços, seja no dia primeiro do ano ou no dia cinco... você que sabe. É se dar a chance de pegar tudo aquilo que deu errado antes, e não, não apagar ou deixar totalmente no passado como o povo adora dizer; encara, olha, pra quem sabe conseguir entender e quando enfim seguir em frente, não cometer o mesmo erro outra vez. Porque errar, a gente vai continuar errando sempre, só podemos ser mais inteligentes quanto a isso...
Bom ou ruim, as coisas pelas quais passamos vão se tornando parte da gente, o tamanho dessa parte quem define é você. Só você.
Eu bati, levei; levei bem mais do que bati... tropecei, me equilibrei onde ninguém achava possível; caí, me quebrei mas juntei meus pedaços, talvez alguns tenham ficado espalhados mas acho que nunca fui mesmo inteira... dancei, pés descalços sempre, me libertei da minha própria liberdade; sumi, surtei, me perdi e me encontrei, passei... sorri, com e sem lágrimas nos olhos. 2011 ao mesmo tempo que foi como uma sequência de flashes frenéticos frente aos meus olhos, em muitos momentos parecia se arrastar como se desafiasse a lógica e dissesse “não vou terminar nunca”. Mas se eu consegui chegar até aqui, é porque teve muita gente, muitas mãos, abraços, conversas, recados, força, carinho, energia boa demais. Obrigada, mesmo. Depois e apesar de tudo, ainda tem pessoas que continuam acreditando.
E eu, eu tô de pé.
...que venha 2012...

terça-feira, 20 de setembro de 2011


Quem é você, senão um sonho bom, daqueles dos quais lutamos pra não acordar mesmo sabendo que a realidade lá fora nos chama... É, você é passado e isso é tudo que sei. Alguém a quem eu recorro quando o mundo parece desabar ou sinto medo de abrir os olhos e enxergar o que se coloca a minha frente.
Um tipo estranho de passado que contrariando o tempo, se recusa a passar. Emaranhado na minha história, estilhaçado dentro de mim... você foi, mas já não é, então me liberta. Aqui, agora, estou largando mão de uma vez por todas de tudo isso. Quero seguir em frente e não tem mais como olhar nem voltar atrás. O mundo girou, a vida seguiu, tá na hora de fazer o mesmo...
Já não me importo nem tãopouco me preocupo se nunca vou saber as respostas das tantas perguntas deixadas no ar pelo silêncio do qual nós dois nos tornamos reféns; faltou coragem, sobraram fugas e o tempo nunca esteve à nosso favor. Pra dizer a verdade, talvez nem mesmo nós estivéssemos... o medo de encontrar algo tão forte e vivê-lo às últimas consequências foi mais do que estávamos prontos pra suportar. Covardes, imaturos, inadequados... E entáo, os dois corpos que se atraíam se entregaram à uma tentativa frustrada de se repelir, sem saber que nem sempre somos nós que fazemos nossas próprias leis. E fere.
Não sobrou muito, apenas algumas lembranças e desejos esmigalhados... ainda assim, durante um tempo isso me alimentou. Mas já não sou a mesma de antes, sonhos e ilusões não me bastam. Tenho fome de vida e verdade, quero viver de olhos bem abertos.
Eu acordei. E vocë não estava mais lá...