Seus olhos fixos nos meus, meus lábios fixos em outros e a decepção latente gritando silenciosa e cheia de fúria através dos mesmos olhos negros que continuavam a me encarar, não importa o quanto eu os evitasse. Uma facada. Em você, e quem diria, em mim...
Eu fugi, ainda que sem sair do lugar; acabei com as esperanças e as futuras linhas do conto que, tempos atrás com um sorriso no rosto, você planejou transformar em história. Te afastei, cuspi no prato que comi, na cama que deitei, no corpo que me enlacei e que diferente de tantos outros, foi mais do que apenas um corpo... e talvez por isso, justamente por isso, eu tenha jogado com tanta brutalidade pra escanteio, não só como um brinquedo do qual me cansei, mas como um do qual peguei aversão. Melhor assim. Sem explicações nem despedidas, apenas ir antes que seja tarde demais.
...é mais fácil vestir a máscara e agir feito a filha-da-puta que esperam, provocando brigas, arrumando qualquer confusão ou desculpa que seja, pra te ferir e te mandar embora, porque, como todo bicho que se sente acuado minha defesa é o ataque. Foi mal, ou não.
Então eu te piso, enfio o salto agulha bem fundo na ferida aberta até te ouvir urrar de dor, um pouco porque eu posso, é o hábito, outro pouco porque eu preciso sentir e saber que você se importa, que tudo não foram só frases perdidas e beijos ordinários em quartos escuros onde o tempo se estendia e se perdia conosco entre os lençóis. E a fúria vai sendo vencida pela decepção na batalha que travam para ver quem domina os seus olhos negros e desiludidos, que sem vergonha nem jogos, nunca se preocupou em demonstrar exatamente o que queria desde a primeira vez em que cruzou com a incerteza curiosa dos olhos meus.
É, eu consegui o que queria. Então diz por que eu também pareço estar ferida?
...tanto no amor quanto na guerra, de qualquer jeito todos nos fudemos um pouco, sempre. Às vezes só demoramos mais a perceber...